segunda-feira, outubro 04, 2004

Sobre a cor e valores lumínicos

Quando nos perguntam “Que significam as palavras ‘vermelho’, ‘azul’, ‘preto’, ‘branco’,” podemos imediatamente apontar para coisas que têm essas cores, mas a nossa capacidade para explicar o significado destas palavras não vai mais além!

Wittgenstein



A cor é a qualidade da sensação visual produzida pelas radiações de luz, quer estas sejam directas, reflectidas ou difundidas por um corpo.

Um corante é a substância natural ou artificial, solúvel em meios de suspensão associados ou associáveis, aos quais ela confere uma cor determinada, bem como dessa maneira, às matérias a que é aplicada, colorindo-as.


Mistura aditiva
É possível em laboratório, ou com os meios apropriados, obter a mistura dos raios luminosos refractados, ou seja a reunião das sete cores do espectro solar, e que resulta novamente na luz branca. Esta mistura óptica é aditiva, e é, de algum modo, semelhante ao que acontece quando se gira a alta velocidade um círculo de cores. A mistura aditiva é impossível de obter através da mistura de pigmentos corantes, no entanto os impressionistas tentaram escapar a esta determinação da matéria através do recurso à pincelada por justaposição, ou seja as cores não se misturavam na paleta mas opticamente quando o espectador se encontrava a uma certa distância. Tentava-se, desta forma, conservar uma maior luminosidade e valor atmosférico.


Mistura subtractiva
É a mistura que resulta directamente da fusão das tintas. A mistura de duas cores implica a perda em maior ou menor grau das suas qualidades intrínsecas e a produção de uma terceira cor. No caso da mistura de amarelo com azul, é a cor mais intensa - o amarelo - que perde parte dessa qualidade, e o azul torna-se mais “aberto” surgindo a cor verde. A mistura subtractiva das cores tende em teoria para o negro, mas muitas vezes pela natureza das matérias obtém-se uma cor suja e escura.




Cores primárias, secundárias e intermédias
Apesar de existirem vários sistemas para classificar a cor, o mais adoptado é o sistema das três cores primárias- azul, amarelo e magenta - a partir das quais se obtêm todas as outras.

Cores primárias definem-se pela sua singularidade, e são cores autónomas porque não dependem de nenhuma mistura.

Cores secundárias são as que resultam da mistura de duas cores primárias. Ou seja se misturarmos amarelo+magenta= laranja, se misturarmos amarelo+azul obtemos verde, e se misturarmos magenta+azul obtemos violeta.

As cores intermédias surgem quando misturamos uma cor primária com uma secundária, ou seja a mistura de azul+verde resulta num azul esverdeado.


Primárias Secundárias Intermédias
Amarelo A+m=laranja A+laranja

Magenta M+az=violeta M+violeta

Azul Az+a=verde Az+verde


Qualidade térmica
Muitas vezes referimo-nos às cores como sendo quentes ou frias, no entanto esta distinção pode ser considerada um pouco empírica uma vez que se relaciona com respostas a estímulos térmicos e cromáticos, por exemplo a cor do fogo é o vermelho, é considerada uma cor quente. Já os azuis e os verdes remetem-nos, por exemplo, para céus gelados e prados frescos, são considerados cores frias.


Complementaridade
A noção de cor complementar resulta do efeito de contraste, ou seja são complementares aquelas que são opostas:


Magenta (vermelho)/Verde

Azul/Laranja

Amarelo/Violeta



A complementaridade, baseada no efeito de contraste, gera uma harmonia cromática. Estas duplas de cor vibram com nitidez, e são muito utilizadas na publicidade pelo seu forte poder cromático.

Quando se mistura um destes pares o resultado é próximo da neutralidade, ou para cinzentos ligeiramente coloridos. Se a mistura for aditiva surge o branco.


Contraste sucessivo
contraste sucessivo resulta de um efeito óptico que acontece quando fixamos uma superfície vermelha por alguns momentos e olhamos a seguir para uma superfície branca- vemos um verde azulado! Este efeito é uma espécie de imagem sucessiva da cor por nós fixada, surge-nos a sua complementar.


Cor projectada
A cor pode ser ligeiramente alterada ou influenciada por outras cores que estejam próximas, muitas vezes surge aquilo a que se chama cor projectada. Veja-se o exemplo de um chão de tijoleira vermelha que se reflecte a uma certa hora do dia nas paredes brancas.


Saturação
Esta noção relaciona-se com a pureza da cor, assim sendo uma cor completamente pura seria produzida por um único comprimento de onda de radiação lumínica.
Uma cor, obtida pela mistura de tintas, é tanto mais saturada quanto for correcto o equilíbrio das cores utilizadas e da própria natureza das cores envolvidas.


Qualidade energética
A qualidade energética refere-se à propriedade que as cores têm de se contrair ou expandir. É também uma noção um pouco empírica, mas que pode ser entendida quando verificamos que o azul tem tendência a contrair-se num espaço branco, e para expandir-se sobre o negro, ou o amarelo que se expande num fundo branco e se contrai quando colocado sobre negro.


Gradação lumínica
As cores têm diversos graus de luminosidade, por exemplo o amarelo é mais luminoso que o azul, podemos desta forma classificar as cores consoante a sua intensidade. As cores luminosas são altas e as menos luminosas são baixas, ou seja possuem diferentes valores lumínicos, obtendo-se assim uma escala progressiva.



Valores, Sombra e Claridade
Quando olhamos em volta a luz não incide de forma igual nos objectos, em parte é reflectida, em parte vai perdendo intensidade à medida que algo é mais reentrante ou mais escondido- existem num elemento zonas de luz, zonas de penumbra e zonas de sombra. Existem, assim, diferentes gradações de sombra e diferentes valores de claridade. No desenho a ideia de volume ou de tridimensionalidade pode ser acentuada pelo recurso às gradações de sombra e de claridade.


Harmonias e qualidade expressiva
A harmonia traduz-se numa relação cromática equilibrada.

Que grupos de cores são considerados harmónicos?

Os tons análogos de uma escala cromática sequente, como por exemplo o amarelo, amarelo-alaranjado, laranja, laranja- avermelhado, e vermelho.

Os tons opostos relacionados com um outro afim, como por exemplo azul-laranja +amarelo, sendo que o azul e o laranja são opostos e o amarelo relaciona-se por analogia com o laranja.

Também são harmónicas as cores unificadas por uma velatura, ou seja qualquer conjunto de cores por mais desarmónico ou diferente pode ser unificado através de uma cobertura de uma só cor, uniforme e transparente.

Todos os cinzentos coloridos podem-se considerar harmoniosos entre si, uma vez que a cor unificadora é sempre o cinzento oscilando a presença relativa de outras cores.

O negro tem uma característica designada por interferência aglutinadora, e que se traduz na possibilidade de harmonizar diferentes cores através de uma estrutura a negro.