segunda-feira, outubro 04, 2004

Desenhar

“le dessin est une espèce d’hypnotisme; on regarde
tellement le modèle, qu’il vient s’assoir sur le papier”.
Picasso



Formato normalizado das folhas de papel

As folhas de papel disponíveis no mercado seguem habitualmente a norma dos A’s, ou seja quando nos referimos a A4 referimo-nos à medida 29,7 x 21 cm, assim sendo um A5 corresponde a metade de um A4, um A3 a dois A4’s, e um A2 a dois A3’s…


Linhas orientadoras

Na fase inicial de um desenho recorre-se habitualmente a linhas orientadoras, ou seja para tactear a posição das formas desde sempre se utilizou a esquematização das figuras à sua estrutura geométrica elementar.

Estas linhas permitem uma simplificação formal que reduz as formas a esquemas estruturais geralmente geométricos. Em todos os tratados e manuais de ensino do desenho o recurso a linhas orientadoras é utilizado para facilitar os primeiros passos da aprendizagem.


Enquadramento

O enquadramento de uma imagem é um daqueles conceitos que não são exclusivos do Desenho, usamo-lo também para a fotografia e para o cinema. Qualquer um de nós já ouviu os termos plano geral, primeiro plano, ou plano americano.

Quando nos referimos a enquadramento remetemos para a escolha, a eleição de um fragmento do mundo que nos rodeia, escolhendo os seus limites.

Van Gogh relata numa carta ao seu irmão Theo o uso que dava a um pequeno bastidor de madeira, olhava através dele as paisagens que queria desenhar controlando assim o seu enquadramento:

Assim na praia ou nos campos ou prados pode olhar-se através dele como se fosse uma janela […].

A ideia de enquadramento relaciona-se com a representação visual e com a ideia do quadro como uma janela através da qual se observa o mundo natural. Esta noção surge no Primeiro Renascimento enunciada por Leon Batista Alberti em 1435:

Para pintar, pois, uma superfície, primeiro faço um quadrado ou um rectângulo do tamanho que me parece, o qual serve como uma janela aberta, pela qual se vai ver a história que quero expressar.

A consciência de fragmento visual que temos hoje tem uma profunda ligação com o novo olhar que a fotografia trouxe, com a sua influência no desenho, e nas artes plásticas em geral.


Composição

A noção mais comum de composição surge definida nos dicionários de arte como arranjo formal de uma pintura ou desenho.

Na composição tradicional dispõem-se toda uma série de elementos sobre um suporte determinado ( no desenho sobre a folha, na pintura sobre o quadro), pelo contrário no enquadramento selecciona-se um fragmento da realidade.

Rudolf Arnheim definiu-a da seguinte forma:

Por composição visual, queremos significar a maneira através da qual as obras de arte estão organizadas por formas, cor ou movimentos. (…) A composição revela-se a si própria quando, como fazemos inevitavelmente, apreciamos um quadro, uma escultura ou um edifício enquanto combinações de formas definidas, organizadas numa estrutura englobante.


Perspectiva

A imagem de um objecto na retina contrai-se ou dilata-se consoante o objecto observado esteja mais longe ou mais perto do olho do observador. Helmholtz, fisiologista e físico alemão (1821-1894), observou que um objecto adquire diversas dimensões na retina correspondendo a diversos ângulos visuais, ou seja quanto mais distante estiver o objecto mais pequena será a sua dimensão.

Uma constante ao longo de toda a história da teoria da perspectiva foi a geometria, chave que a sustenta e que a explica. O espaço que representa pode conceber-se a partir de um sistema de três dimensões- altura, largura e profundidade. Pensemos no exemplo de um chão de mosaicos quadrados em perspectiva, é o exemplo mais básico, e que tem sido feito ao longo dos séculos, o recorrer a uma quadrícula de forma a obter um efeito de profundidade.


Sobreposição

O efeito de sobreposição é importante para a criação de profundidade, e para a noção de espaço tridimensional. O escalonamento da dimensão de figuras ou objectos hierarquiza a noção de distância, a dimensão do espaço representado.

Segundo Arnheim “para alguns pintores o espaço é mais evidente através de uma série contínua de objectos que se sobrepõem, o que conduz o olhar, como que por planos, desde o plano mais avançado até ao fundo”.